As causas da Crise Financeira

A actual crise financeira foi causada pela bolha imobiliária norte-americana, que atingiu o seu colapso em 2006. O boom do sector imobiliário foi gerado por várias razões, que ao juntarem-se resultaram na pior crise desde a Grande Depressão.
A seguir apresento algumas das causas essenciais que contribuíram para a explosão da bolha imobiliária americana e, consecutivamente, para a crise financeira de 2007-2010 (é de salientar que ao estabelecer a data final de 2010 não quero dizer que a crise global terminou, pois a crise financeira refere-se ao sistema financeiro, mais propriamente à banca e outras instituições de prestação de serviços financeiros - já não vemos os bancos a falir como o Lehman Brothers, o BPP ou o Norhern Rock; nem empresas de seguros como a AIG, também pertencente ao sector financeiro):

• Abundância de crédito e moeda (política monetária expansionista)
• Condições de crédito fáceis
• Endividamento
• Altos padrões de consumo financiados pelo crédito
Os EUA viveram uma época de expansão financeira durante as últimas décadas. As condições de crédito fácil juntamente com preços das casas a subir e baixas taxas de juro (entre 2000 e 2003 a taxa de juro nos EUA baixou de 6,5% para apenas 1%) levou os americanos a recorrer cada vez mais aos empréstimos hipotecários. O excesso de dinheiro na economia americana (devido a vinda de capitais estrangeiros, abundância de credito e politicas monetárias expansionistas) tornou o dólar americano numa moeda barata e os consumidores assumiram padrões de consumo baseados no crédito excessivo. Toda a Economia Global passou a depender da elevadíssima procura americana e do seu consumo. Alterações nos padrões de consumo americano afectam a Economia Global, sendo a tendência similar, ou seja, abaixamento do consumo nos EUA faz retrair a Economia Global e vice-versa.

• Aumento de acordos financeiros baseados no crédito
• Sub-prime
A abundância de crédito levou os bancos de investimento a emitir títulos garantidos pelas hipotecas e outras formas de empréstimo aos quais chamaram securities. Os securities mais conhecidos são os CDO (Collateralized Debt Obligations) e MBS (Mortgage Backed Securities). O valor destes títulos está estritamente ligado às hipotecas e outro tipo de créditos. No caso da não devolução do crédito a security perdia o seu valor. A partir de 2003 as taxas de juro começaram a aumentar, o que levou os sub-prime e Adjustable Rate Mortgages - ARM - (tal como o nome indica são hipotecas com taxa variável) a deixar de serem pagos (a delinquência dos sub-prime atingiu 25% em 2008, ao mesmo tempo 14,4% de todas as hipotecas deixaram de ser pagas entre 2008 e 2009) enquanto pessoas que conseguiam pagar o crédito deixaram de o fazer porque o preço das casas começou a diminuir (entre 2006 e 2008 os preços das casas baixaram 20%).
Em 2007 as emissões dos MBS atingiram $1,3 triliões.

• O "Shadow Banking System" (sistema bancário paralelo)
Este termo é utilizado nos EUA para descrever o sector financeiro mais especulativo, que é constituído pelos bancos de investimento e fundos de investimento (especialmente os hedge funds). A importância deste sector não foi suficientemente reconhecido no inicio desta década, e não foi submetida a mesma regulamentação que os bancos comerciais. Essas instituições davam crédito a quase toda a gente (sub-prime) sob condições fáceis, e com o relaxamento dos níveis de Reservas Obrigatórias o sistema bancário paralelo passou a assumir compromissos insuportáveis. Desta forma, o sistema bancário paralelo, financiou sub-prime e emitiu ABS (Asset Backed Securities) o que pode ser resumido na emissão do chamado lixo tóxico, ou seja, títulos cujo valor-base é instável, perigoso e especulativo.

• Especulação no sector imobiliário (hedge funds e especuladores em geral)
O mercado imobiliário americano foi uma bolha clássica entre 2003 e 2006. Primeiro boas perspectivas, optimismo e atractividade devido a tendências de crescimento. Tornando-se o mercado imobiliário atractivo, os especuladores começam a entrar alimentando a procura, e consecutivamente os preços. Mas o mercado que se torna numa bolha explodirá quando os especuladores saírem do mecanismo, e quando eles saem a procura baixa e ao mesmo tempo a oferta sobe. Nessa altura o mercado imobiliário já não é atractivo e a tendência de subida é substituída pelo decréscimo de preços.
O esquema a seguir demonstra o mecanismo acima descrito em cinco passos simples.



• Desregulamentação
O sistema financeiro americano foi alvo de desregulamentação desde o mandato de Reagon até o Bush segundo. A desregulamentação permitiu o sector financeiro tornar-se mais livre, e daí mais selvagem. A inovação financeira foi, por parte, possível, devido ao evento de desregulamentação.
Algumas das principais medidas para a desregulamentação:
Em 1982 o Presidente Ronald Reagon assinou o «Garn - St. Germain Depository Institutions Act» que contribuiu para a crise dos «Saving & Loans» nos finais da década de 80, inícios da década de 90, e posteriormente para a actual crise.
Em 1997 o chairman do Fed Alan Greenspan lutou para manter o mercado dos derivados não submetido à regulamentação.
Em 1999 o Presidente Bill Clinton assinou o «Graham-Leach-Bliley Act» que substituiu o «Glauss-Steagall Act» de 1933 que reduziu a separação entre a banca comercial e de investimento e permitiu ao "sistema bancário paralelo" praticar empréstimos de alto risco (podemos referir esse evento como o «predatory lending», pois os empréstimos emitidos eram de elevado risco)
Em 2000 o «Commodity Futures Modernization Act» permitiu a auto regulamentação do mercado terciário americano dos derivados, isto é, o mercado OTC (over-the-counter).
Em 2004 a SEC (Security and Exchange Comission, equivalente à portuguesa CMVM - Comissão de Mercado de Valores Mobiliários) baixou os níveis das reservas obrigatórias para os bancos.

• Inovação financeira
A desregulamentação do sistema financeiro americano levou a emissão de títulos altamente perigosos. Essa emissão era realizada pelo «Shadow Banking System». Os exemplos mais ilustrativos são os seguintes:
MBS (Mortgage Backed Securities) e CDO (Collateralized Debt Obligations) que são títulos do tipo obrigacionista, cujo valor está protegido pelo credito. No caso dos MBS, as hipotecas garantem o valor desses securities, e a não devolução das hipotecas poderá resultar na desvalorização dos MBS; os CDO reúnem várias hipotecas (ou outros tipos de credito) sob forma de títulos que são vendidos aos investidores. Estes são divididos em três grupos conforme o nível de risco. Estes três níveis são «Senior» (risco e return rate baixos - nível AAA - seguro), «Mezzanine» (risco e return rate médios - nível A ou BBB - médio) e «Equity/Risky» (risco e return rate elevados - nível unrated - especulativo). Se algumas das hipotecas não forem devolvidas, os primeiros dois estratos não sentirão o efeito, enquanto os possuidores de CDOs com nível unrated poderão perder parcial ou totalmente os seus investimentos. No entanto a falência forte no pagamento das hipotecas levou a que mesmo os Seniors perdessem seus investimentos.
Outra inovação financeira é a emissão de seguros sobre os títulos anteriormente falados. Estes seguros recebem o nome de CDS (Credit Default Swaps). Lembremo-nos do caso da AIG (American International Group) que teve de ser salva pelo Estado americano para não abrir falência. Uma das causas principais desse acontecimento foi a falência de vários ABS (asset backed securities, que compreendem títulos como MBS e CDO) que resultaram na necessidade de pagamento de seguros aos investidores. Imagine uma companhia de seguro automóvel, e na situação em que num ano milhões de carros foram alvo de vários tipos de acidentes. Essa companhia de seguro automóvel dificilmente suportara uma altura destas. No seguro financeiro aconteceu o mesmo – falência de milhões de títulos quase ao mesmo tempo.


Desta forma, em resumo, o sub-prime, o excesso de crédito, o endividamento, a desregulamentação e a inovação financeira foram as principais causas da explosão da Bolha Imobiliária Norte-Americana em 2006 que resultou na quase imediata crise financeira de 2007 com o sistema financeiro a falir (Countrywide Financial, Northern Rock, Bear Sterns, Lehman Brothers, Merrill Lynch, Fannie Mae, Freddie Mac, Washington Mutual, Wachovia, AIG, HBOS são alguns dos exemplos da crise do sector financeiro).

Crise Financeira - Introdução

A crise financeira actual é considerada como a pior crise desde a Grande Depressão de 1929. A crise causou injecções de sumas astronómicas nos EUA e no Resto do Mundo para evitar o agravamento da situação já complicada. Os Estados interferiram fortemente através de políticas monetárias, regulamentação e através de outras formas. No entanto ainda existem riscos de agravamento da situação nos futuros anos. Este período económico foi referido como a "Grande Recessão", no entanto essa expressão foi utilizada para a descrição de todas as recessões de décadas anteriores.
A explosão da bolha imobiliária americana em 2006 fez com que o valor dos títulos financeiros (securities) cujo valor está ligado à hipotecas desvalorizar drasticamente. Essa desvalorização causou bancos, investidores institucionais e mesmo países perder uma parte significativa dos seus investimentos, o que prejudicou seriamente a Economia Mundial. Poucos anos depois do rebentar da bolha imobiliária americana, juntamente com os resultados dos distúrbios financeiros passados (como a crise dos Saving & Loans e a bolha dos dot.com) a economia Norte Americana (logo a Mundial) abateu-se com problemas como a insolvência bancária, redução do crédito e da confiança.
Os governos (especialmente o governo Norte Americano desde o Reagon até ao último Bush) foram culpados pela regulamentação fraca; enquanto as agências de rating (Norte Americanas) foram culpadas por não conseguir avaliar correctamente os riscos que advinham de títulos financeiros ligados ao crédito, e especialmente às hipotecas.
No entanto, ao contrário do que aconteceu na Grande Depressão, os governos pelo Mundo inteiro tomaram participação activa para resolver a crise, o que resultou em estímulos fiscais, políticas monetárias favoráveis a expansão da actividade económica (políticas de aquecimento económico) e várias injecções de capital nos mercados (em inglês: bailout). Estas medidas quase imediatas, permitiram que a crise financeira não afecta-se tão pesadamente as famílias e cidadãos comuns. Um dos exemplos mais ilustrativos da participação governamental foi a injecção de $2,5 triliões (no sistema de contagem americano) no mercado americano para a compra da dívida dos EUA e lixo tóxico dos bancos.

Introdução ao blog

Criei este blog 18 de Março de 2010. O meu nome é Caisin Serghei. Eu sou aluno do 12º ano da Escola Secundária de Bocage em Setúbal. Na minha perspectiva a crise financeira actual reflectiu-se no dia-a-dia de quase todas as pessoas. Todos os dias ouvimos falar da crise do imobiliário, crédito, taxas de juro, etcetc Mas será que percebemos tudo o que nos dizem? Eu não consegui fundamentar o que me diziam, e não entendia as causas dos acontecimentos que me recontavam, por isso decidi efectuar as minhas próprias pesquisas. Eu iniciei esse trabalho há cerca de três semanas atrás e agora pretendo exprimir os resultados obtidos neste blog. Eu vou continuar a trabalhar neste assunto e tentar actualizar o blog constantemente.

Desejo-vos boa sorte para a resolução das vossas crises financeiras pessoais, e espero que entremos numa nova época de expansão o mais cedo possível. Embora quando essa época chegar, o mercado irá, novamente, gerar irracionalidades que resultarão em novas crises, por isso usem o momento de agora para aprender a essência da crise e no futuro muitos erros de hoje poderão não ser cometidos.

Não nos devemos contentar com conhecimentos gerais, mas sim perceber, ou tentar perceber as raízes da questão.